terça-feira, abril 22, 2008

Ir a um qualquer serviço de atendimento ao público é, normalmente, uma experiência deprimente. Digo deprimente, já para ser simpática.
É verdade que, com a abertura das “lojas do Cidadão” a coisa melhorou. Mas muito brevemente. E depois começou a descobrir-se que, afinal, a loja do cidadão continua a não dar para muita coisa que nos interessa… Mas adiante!
Que os serviços públicos neste país não funcionam, já toda a gente sabe. A “burrocracia” impera neste país demasiado apegado a carimbos verdes e papéis azuis de 25 linhas. Quando se tenta simplificar, então, o resultado é normalmente pior do que o que já estava, dando então razão aos “velhos do Restelo” que abundam por detrás desses balcões espalhados por todo o país a suspirar “dantes é que era bom”. Investem-se quantias vergonhosas em sistemas que o país não tem capacidade para o compreender, utilizar e pôr a funcionar. Temos funcionários que quando apresentados a novas aplicações informáticas disparam o “quero cá saber disso” com a maior facilidade da vida e só o utilizam a contra-gosto e devidamente obrigados.
Depois desta breve introdução que só serviu para aliviar o fígado depois de uma manhã escabrosa, para dizer o mínimo, cá vai a história:
Em Agosto do ano passado, eu, a burra, decidi contrariar o resto dos cidadãos que se estão maribando para as coisas como actualização de moradas nos documentos de cada vez que mudam de casa, e decidi, uma vez que estava desempregada, ir passar umas agradabilíssimas horas a dar trabalho aos outros, e fui à Loja do Cidadão alterar os documento para a morada nova (ao fim de 1 ano de cá estar, mas isso não interessa nada). É a segunda vez que cometo esta burrice. Soubesse eu o que sei hoje, nunca me teria mudado da casa dos meus pais, ia a cada seis meses passar uma semanita aos Açores, pagava menos de impostos, tinha descontos nas passagens para ir visitar os meus pais e não me metia nestas embrulhadas que nem lembram ao Menino Jesus. Mas não. Saio ao meu pai, e nestas coisas saí com o seu feitio fundamentalista do “tudo direitinho que é para não dar para o torto”. Com o BI correu tudo bem. Saca lá 5 ou 6 euros e daqui a uma semana vem cá buscar o teu BI novo. Saiu bem, a tempo e horas e com os dados todos correctos, à excepção do nome da minha mãe. (Estou para saber quem é a Maria de Lurdes que aparece no meu BI, uma vez que a minha mãe se chama, desde o dia em que nasceu, Maria de Lourdes.)
Com a carta de condução a história é outra. Em vez dos 5/6 euros que se paga para alterar o BI, uma carta de condução actualizada (já vos disse que é OBRIGATÓRIO terem a carta de condução com a morada actualizada, ou pelo menos na mesma morada do BI??), a DGV cobra-nos 35aérios para alterar seja o que for na carta de condução. 35#$%&$% aérios!!!!! E assim que entregamos os papelitos que somos nós que preenchemos para eles poderem passar à mão para um computador, onde temos de preencher TUDO (não há cá campos opcionais para os serviços do estado, é tudo com telemóvel e telefone e e-mail e número do sapato e dioptrias em cada olho e mais o raio que o parta) avisam-nos logo que “a coisa anda pelo menos com quatro meses de atraso”. E passam-nos uma guia (mais um papelito que somos nós que preenchemos à mão, mas tem de ser com caneta preta e em letra de imprensa senão não aceitam) que dura… 3 meses! Inteligente não é? Eu também achei. Mas não estranhei quando 3 meses depois ainda não tinha recebido na minha nova morada o dito envelope com a carta que me custou 35€…
Como não preciso da carta todos os dias, fui lá no Carnaval para renovar a guia. Às 10h da manhã, o serviço da DGV da Loja do Cidadão das Laranjeiras já não distribuía senhas… Desconsiderei o caso e dirigi-me na mesma ao balcão especificando que só queira uma porra dum carimbo que me deixasse conduzir com o bendito papel até chegar a #$&%& da carta. A funcionária, que devia estar no mínimo com prisão de ventre há 3 dias tendo em conta a simpatia com que me atendeu, lá agarrou no papel e a muito custo introduziu o número da minha carta no computador que tinha à sua frente e disse-me: “ A sua carta foi devolvida no dia 16 de Novembro. Não a foi levantar aos correios.” Hã?? Como pode ser isso se ninguém me avisou que ela lá estava? “Não sei, disse ela. Agora tem de a ir levantar aos serviços centrais em Entrecampos, mesmo ao lado do viaduto.” Mas mesmo assim carimbou-me o dito papel para poder conduzir mais um mês até ir buscar a carta nova.
Fui lá hoje… Para além duma “gruta” onde estão centenas de pessoas à espera, com um sistema de distribuição de senhas que é um desafio para qualquer perceber qual o serviço que lhes corresponde e com um (1) ecrã que anuncia as ditas senhas ao fundo de uma sala que tem seis (6) colunas que tapam a visão de qualquer ângulo da sala, esperei duas (2) horas para que chamassem a senha 49, para chegar à mesa 3 onde, afinal, estava a atender a senha 47. Esperei em pé que acabassem de atender quem estava à minha frente, com a empregada a refilar que não percebia onde estavam as pessoas pois tinha chamado 3 senhas de seguida e ninguém tinha aparecido e agora apareciam todos ao mesmo tempo (nunca deve ter estado naquela sala de espera de certeza absoluta), lá solicitei à “expedita” funcionária que passasse para cá a minha carta, já paga e alterada, sff. Entre o metro e meio que a separava da cadeira e o armário onde estão as cartas devolvidas, a criatura foi interpelada por quatro colegas que não se entendiam com o sistema informático e mais um a informar que alguém tinha feito borrada num dos processos. Depois de lamber uns quantos envelopes enfiados numa gaveta descomunal, lá encontrou a minha carta, dentro de um envelope endereçado à minha pessoa, que eles ABRIRAM! Tentando conter a minha raiva para não começar a fazer ali o escândalo da minha vida e da deles, perguntei como é que se processava a entrega das cartas. “Isso é da responsabilidade dos CTT.” Então, perguntei eu, de que é que serve eu ter dado todos os meus dados pessoais aos vossos serviços, incluindo telemóvel, e-mail e mais o que houvesse se vocês recebem a minha carta devolvida, ABREM a correspondência e ficam com ela? “Minha senhora, temos todos os dias centenas de cartas devolvidas! Já viu se tivéssemos de contactar com todas as pessoas? Esses dados só servem para contactar as pessoas no caso de faltar algum documento para darmos andamento ao processo!”…

Só a mim… Só a mim…

Sem comentários: